Nunca mais olhar para trás
Eu ainda estava em estado de graça pela experiência que vivi, mas quando voltei ao trabalho e encontrei todos novamente naquele clima de “salve-se quem puder”, comecei a sentir-me muito mal. Foi então que recebi um e-mail de uma colega de trabalho, com quem eu praticamente não havia tido contato, dizendo que Deus estava preparando a chegada do nosso bebê e que deveria ter fé, pois ele virá no momento certo. Ela ficou sabendo que eu desejo ter um bebê por uma amiga em comum, e sentiu que deveria contar-me seu testemunho.
Ela tinha acabado de ser mãe e contou que um pouco antes de ela descobrir que estava grávida, a nossa empresa passava por um momento bastante similar, ela também teve muitos medos, enfrentou uma gravidez de muito risco e hoje tem uma menininha lindíssima.
Trocamos várias mensagens e cada vez mais Deus falava comigo por meio de sua história, ela foi um verdadeiro instrumento. Ela fez menção aos Salmos que a inspiram: “Tu que estás sob a proteção do Altíssimo e moras à sombra do Onipotente, dize ao Senhor: ‘Meu refúgio, minha fortaleza, meu Deus, em quem confio’.” (Sl 91, 1-2) e “Cairão mil ao teu lado e dez mil à tua direita; mas nada te poderá atingir.” (Sl 91, 7). Foi a confirmação das palavras do padre de que devo concentrar minhas forças na chegada do nosso bebê.
Percebi que Deus já havia me dado milhões de provas de que me ouve e provê todas as minhas necessidades no momento certo, e era nisso que eu deveria me agarrar com todas as forças do meu ser e fortalecer minha fé. Como somos tolos, muitas vezes a resposta está tão clara e fazemos questão de não enxergar.
“Na tua presença, Senhor, estão os meus desejos todos, e a minha ansiedade não te é oculta.” (Sl 38, 9)
No dia 02/04/2010 fui à Catedral pedir que Deus me ajudasse a caminhar cada vez mais próxima do caminho que Ele traçou para mim, sem esmorecer ou perder as esperanças, sem me desconcertar todas as vezes que surgir um fato novo, eu não queria mais olhar para trás.
Enquanto eu estava pedindo que Deus me acalmasse meu coração, decidi aproveitar a oportunidade e me confessar. Falei sobre como, muitas vezes, sentia que minha fé era insuficiente para atravessar essa provação tão grande e sobre a ânsia pela chegada do nosso bebê.
Entre várias coisas, o padre disse que a fé é algo que vem de Deus, se sentimos essa necessidade é porque Deus já plantou a semente da fé em nosso coração, porém, devemos sempre clamar “Senhor, eu creio, mas aumenta minha fé”.
Quanto à luta interior que tenho travado para perdoar meu pai, o padre lembrou as palavras de São Paulo: “Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero” (Rm 7, 19). Demonstrou-me que aquele sentimento era inerente ao ser humano, mas que o perdão é divino e que eu deveria continuar pedindo a Deus essa cura.
O padre me aconselhou a conversar mais com Deus, compartilhando com Ele meus medos, minhas angústias e minhas fraquezas, como se faz com um verdadeiro amigo. Disse que temos que participar Deus de nossas vidas como uma pessoa de nosso estreito convívio, porque o crescimento espiritual é fruto de um íntimo diálogo com Deus.
Aconselhou-me novamente a ter mais paciência enquanto aguardo a chegada do nosso bebê, porque, muito antes de ser um projeto meu e de meu esposo, o nosso bebê é um projeto de Deus e que vai ser realizado no tempo que Ele reservou para tal, pois, certamente, esse período de espera e sofrimento faz parte do plano de Deus para nosso amadurecimento.
O padre citou a seguinte frase: “quando me sinto fraco, então é que sou forte” (II Co 12, 10), porque é nessa ora que Deus me ampara.
Saí da confissão com meu espírito muito mais leve. Mais tarde, conversando com o meu esposo sobre as palavras do padre, entendemos que se o planejamento da nossa gravidez não estivesse cercado de tantas tribulações, talvez não estivéssemos clamando tanto pela graça de Deus, de forma que o bebê seria um sonho idealizado apenas a dois, ao passo que diante do nosso sofrimento, estamos recorrendo a Deus para que Ele, em sua misericórdia, supra nossas fraquezas, isso nos faz verdadeiramente fortes. Nossa gravidez tem sido consagrada a Deus desde muito antes da concepção do nosso bebê, o que é, sem dúvida, uma grande benção.
Desse dia em diante tanto eu como meu esposo nunca mais olhamos para trás em relação a essa decisão.
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