Tornar-se uma só alma

Há um tempo recebi a parábola do porco-espinho, essa parábola, junto a inúmeros fatos que aconteceram em minha vida, levou-me a refletir sobre o que é realmente uma família, e, em especial, o que é um casamento.

Divido esses pensamentos com os casados de longa data, recém-casados e aspirantes ao casamento:

Casamento não são duas pessoas que simplesmente decidem dividir um apartamento, são pessoas que decidem dividir uma vida e, para tanto, devem estar dispostos a superar muitas provações, afinal, tornar-se uma só alma é uma tarefa árdua e diária... é nos pequenos gestos que o amor se solidifica, na divisão de tarefas e responsabilidades, na constante busca pelo equilíbrio entre dar e receber, no carinho, na atenção, na amizade, na cumplicidade, no respeito, no abdicar-se de si e de seus desejos particulares, em prol da família.

Certa vez minha sogra me disse algo que retrata um pensamento muito comum: “Quando você se casou sabia que ele era assim e ele não vai mudar”. Com todo respeito a minha sogra e a toda experiência dela, tenho que discordar, afinal, o que seria do meu esposo se eu não estivesse disposta de todo meu coração a mudar todos os dias por ele? Ou pior, o que seria de mim se o meu esposo não estivesse disposto a mudar por nós? Seríamos apenas dois estranhos que moram juntos, cada um vivendo a sua vida, preocupados com as suas coisas, mas nunca seríamos uma família. Todos os dias nós temos que cortar parte da nossa carne para aumentarmos a superfície de contato com o outro. Cheguei à conclusão que casamento, queridos, é RENÚNCIA.

Tornar-se uma só alma é um milagre que só é possível quando vivido a três: marido, mulher e Deus. Na cerimônia do meu casamento o padre disse algo que me marcou muito: “Ninguém é perfeito e quando casamos somos co-responsáveis pela santificação do outro, cuja alma torna-se sua alma”. Essa frase para mim resumiu todo o significado da união matrimonial, já que alude ao amor em sua forma mais sublime e mais complexa: o amor que nos torna mais santos!

Segundo as palavras do Padre Fábio de Melo, “assim como o ouro pelo fogo irá passar e o que tens de melhor o fogo vai revelar”. Desejo de todo meu coração que o amor de vocês seja talhado a cada dia, seja moldado por Deus como ouro nas mãos do ourives, que as arestas sejam aparadas uma a uma pelo amor, que a comunhão entre vocês seja tão intensa impossibilitando distinguir onde acaba o um e começa o outro. Mais do que isso, desejo que o entusiasmo dos tempos de namoro nunca se perca, como na música de Fernanda Brum: “Deus uniu as nossas vidas de uma vez e cada dia é o primeiro outra vez, como num primeiro olhar nada nunca vai mudar, não vai mudar”.

Mencionei no início a Parábola do porco-espinho, agora, segue esse texto na íntegra para que possam conhecê-lo.

Parábola do porco-espinho

Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio.

Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram juntar-se em grupo, assim se agasalhavam e se protegiam mutuamente, mas os ESPINHOS DE CADA UM feriam os companheiros mais próximos, justamente os que forneciam mais calor, e por isso, tornaram a se afastar uns dos outros. Voltaram a morrer congelados...

Precisavam fazer uma escolha: ou desapareciam da face da terra ou aceitavam os espinhos do semelhante. 

Com sabedoria, decidiram ficar juntos. Aprenderam a conviver com as pequenas feridas que uma relação muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro, e terminaram sobrevivendo. (Autor desconhecido)